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É permitido tocar

Sempre que visito uma exposição de esculturas, ao ver as placas de “É proibido tocar” e ouvir as advertências de guardas e monitores que zelam pelas obras, penso que algo está errado. Como conceber uma escultura que não pode ser tocada, sentida, abraçada, integrada às medidas, à forma física, ou seja, aberta a essa interação? Como entender os Bichos de Lygia Clark sem manipulá-los? Como não entrar em uma escultura de Niki de Saint Phalle? Como não ouvir as engrenagens de Jean Tinguely? Como não sentar-se em uma instalação de Jean Dubuffet? Como não sentir a pele da carne das esculturas de Nuno Ramos?


Como deixar adultos e crianças sentirem que aquilo é um corpo similar ao seu, que atrai ou causa repulsa, que é um prolongamento de seu corpo? Que se integra, se aconchega, que traz um norte, um limite e a extensão do corpo. Um esconderijo, um refúgio, um abismo ou um castelo. Algo que fale de corpo para outro corpo. Em que o indivíduo se perca e se ache, que borre os limites da obra com quem interage com ela. Seria mais do que “é permitido tocar”. Seria um convite explícito, um trampolim para a apropriação do momento, no espaço e no tempo. Em meu trabalho, quero sempre integrar, convidar o outro, o que não é a obra, a fazer parte da obra. A descobri-la, explorá-la por meio da curiosidade, das sensações físicas ao tocá-la, deslizar, entrar e sair, experimentar o dentro e o fora.


Vemos um universo pobre no que diz respeito ao oferecimento de espaços de brincar na cidade. Os poucos equipamentos que possuímos disponibilizam mais oportunidades para descargas físicas. As esculturas lúdicas, por seu caráter aberto e interativo, propiciam experiências estéticas e imaginativas e convidam as crianças para um brincar mais criativo, um mergulho, um impulsor de sensações que ajudam a estabelecer um pertencimento no aqui e agora. Espero, com isso, construir pontes que nos levem a todas as obras, às esculturas que nos falam em outra linguagem, que fluem através de nosso corpo.


Sara Rosenberg

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