As forças vegetativas governam a natureza e parecem ser, também, as que dão origem ao trabalho de Sara Rosenberg reunido nesta mostra. Se bulbos, caules, raízes e folhagens são materializações da própria força da vida, que se voltam à sua origem, as formas das esculturas aqui apresentadas seguem este mesmo paradigma, alçando-se em direção ao sol como manifestações do impulso criativo de uma artista para quem a boa forma deve ser algo inteiramente natural, e algo cuja busca é também como uma razão de ser.
Esta busca, que parte do nada em direção a alguma coisa, apóia-se, aqui, tanto em imagens abstratas, cuja origem se encontra no silêncio e na intimidade do gesto criativo, quanto numa visão muito peculiar do mundo externo, que é interpretado de acordo com as regras de um olhar sensível e empático, capaz de localizar e revelar essências, virtudes e forças desconhecidas em coisas que os cegos desprezam.
Por isto a maleabilidade da argila e do gesso, materiais dóceis que cedem facilmente à liberdade e à expansão imaginativa da artista, alterna-se, aqui, com as limitações de outros materiais, menos receptivos, de formas pré-existentes, muitas vezes inesperadas que, quando convenientemente manipulados, amarrados, amassados, perdem sua natureza anterior para se tornarem peças num novo jogo – um novo jogo que, por sua vez, é também uma imitação da natureza.
Ao apropriar-se de coisas que a sociedade de consumo abandona pela metade, Sara Rosenberg as reinsere no ciclo de vida e morte que acompanha tudo o que existe ou já existiu, ao mesmo tempo em que lhes restitui uma dignidade negada pela sociedade de nosso tempo.
Seu gesto criativo, assim, propõe-se como continuação e finalização de processos de um sistema produtivo caracterizado pelo desperdício e pelo consumo unilateral e parcial. Materiais desprezados purificam-se, ganham nova vida, e retornam, transformados, a um lugar ao sol num ciclo de existências mais harmônico e completo.
Este trabalho de transmutação é também uma espécie de alquimia: ao interferir em processos que de outra maneira permaneceriam inconclusos, a artista propõe, igualmente, uma reeducação do olhar, que é capaz de transformar a face do mundo.
Luis S. Krausz